Depois de 140 anos de “coabitação”
cultural, nesta região de imigração italiana, parece claro para todos, ou quase
todos, que as diferenças culturais são um patrimônio que não faz sentido ser
eliminado. Ao contrário, a diferença deve ser cultivada. Onde não há
diferenças, não há também trocas, não há comércio, não há tempero nas relações.
Lévi-Strauss,
na última vez em que falou na Unesco sobre políticas culturais, fez questão de
frisar a necessidade da diferença, para que haja saúde social. Chegou a dizer
que a diferença exige até mesmo certo grau de discriminação. Ela só não deve se
manifestar de forma agressiva, ou excludente. Sem esse laivo pejorativo, ela pode
ser base de uma convivência enriquecida pela possibilidade das trocas.
Caxias do
Sul, depois de 140 anos, é uma cidade pluricultural: além da cultura do gaúcho,
com a qual o imigrante italiano iniciou o processo de mútuo aprendizado, conta
ela hoje com a contribuição de inúmeras outras fisionomias culturais do Brasil
inteiro, e mais, do mundo inteiro.
Será ela no futuro uma cidade sem
rosto, igual a qualquer cidade de seu porte? Certamente não. A identidade nela
criada é tão peculiar que resistirá à incerteza das mudanças. Há nela um
patrimônio gravado tão fundo “na mente e no coração das pessoas”, tanto das que
aí nasceram como das que chegam e aprendem sua história, que ela saberá resistir
à corrosão do tempo. Essa parece ser a melhor herança amealhada, com pertinácia
e coragem, nestes 140 anos de história da imigração.
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