segunda-feira, 28 de setembro de 2015

ENCHENTE DE SÃO MIGUEL (conto)

Contam que é assim, eu não sei se é.
            Uma vez o padroeiro desta terra aqui do pampa era São Miguel. Mandava na chuva, no vento, na geada. Na neve, se fosse o caso. Foi no tempo em que os castelhanos eram donos, mandavam e desmandavam na indiada toda. Ainda está lá, para quem quiser ver, o que sobrou da igreja de São Miguel das Missões, uma senhora igreja.
            Acontece que um tempo depois chegaram os portugueses pelo lado do mar e botaram São Pedro de padroeiro, o São Pedro do Rio Grande. E foram avançando, e avançando, até tomar a terra toda dos castelhanos. E deram, a essa terra toda, o nome de Continente do Rio Grande de São Pedro. Depois, muito depois, é que mudou para Rio Grande do Sul.
            São Pedro, todo mundo sabe, é o dono das chaves do céu. Nuvens, vento, chuva, é tudo controlado por ele. O pobre do São Miguel ficou sem o pedaço de mando dele no céu, igual aos castelhanos que perderam o mando na terra. Aí, numa boa, São Pedro autorizou São Miguel a mandar uma chuva por ano, que era para ser a chuva de São Miguel.
            Então, contam, São Miguel aproveita para tirar o atraso. Manda chuvaradas e chuvaradas, quase sempre aí pelo fim de setembro, perto do dia dele, que é o dia 29. Por isso é que elas ficaram conhecidas por esse nome de enchente de São Miguel.
            De uns tempos para cá, a data não é muito respeitada, mas a enchente de São Miguel acontece sempre: seis meses antes ou seis meses depois, mas acontece.

            Contam que é assim, eu não sei se é.

0 comentários:

Postar um comentário