segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ONDULAÇÕES TRANSVERSAIS

 Saiu a notícia de que a BR, no trecho em que atravessa a cidade vai ter, finalmente, ondulações transversais. Esse é o termo técnico usado pelo CONTRAN para designar os quebra-molas, ou lombadas. O curioso é que lá pelas tantas – na mesma ordem de serviço, ou portaria, que regulamenta ditas ondulações transversais – o órgão disciplinador do tráfego determina que seja fixada sinalização com a palavra “saliência” ou a palavra “lombada”...
Sei que muita gente que anda de carro não gosta de quebra-molas, tanto que na cidade de Caxias do Sul elas foram retiradas, alguns anos atrás. Em Galópolis, eles continuaram (se não erro na conta são cinco ao todo), por decisão judicial impetrada pelos moradores do lugar. E se não estou equivocado, não houve mais nenhum atropelamento nesse trajeto.
Pois a cidade de Caxias do Sul, com atropelamentos quase diários na BR, além de não ter conseguido a mordomia das passarelas – que só beneficiam a Grande Porto Alegre – estava proibida de ter até mesmo as prosaicas lombadas, ou quebra-molas, ou saliências, ou ondulações transversais.
As lombadas só apresentam dois problemas: o de chegarem tarde e o de serem ainda em pequeno número. Desde o tempo de Montaigne, o bom senso indica que as cidades existem para as pessoas viverem nela, e não para serem atropeladas pelas carruagens. Foram-se as carruagens com seu par de cavalos a galope, e entraram em cena carros com dezenas de cavalos cada um, em louca disparada.
Bem vindas as lombadas.
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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SEMANA DO PATRIMÔNIO

Caxias do Sul tem, a partir deste ano de 2015, de forma institucional, a Semana Municipal de Valorização do Patrimônio Histórico e Cultural, criada a partir de Projeto de Lei da Câmara de Vereadores. A data é fixa, de 13 a 20 de agosto, para antecipar e prolongar o Dia do Patrimônio Nacional, hoje, 17 de agosto.
Quem lida na identificação, preservação e valorização do patrimônio cultural – três etapas indissociáveis entre si – sabe que se trata de uma luta inglória. Tenho na bagagem várias lutas inglórias. Algumas terminaram com derrota completa, como a do Cine Ópera. Outras não foram tão completas, mas trouxeram algum grau de destruição do patrimônio.
Já fui chamado de saudosista, pecha infamante criada pela racionalidade progressista. Já me foi dito que é “lei da natureza” que o antigo seja destruído para dar lugar ao novo. Já ouvi ser chamada de “trambolho” a área da estação férrea, onde Caxias nasceu como cidade.
É realmente muito difícil identificar, preservar e valorizar o patrimônio cultural e histórico aqui em Caxias. Agora mesmo, nas obras de modernização da rua Sinimbu, em nome do progresso e da mobilidade urbana, foi arrancada uma tira inteira da calçada na frente da Metalúrgica Eberle. Ninguém se lembrou de que essa calçada é tombada como patrimônio histórico. Ninguém deu bolas ao fato de que são pedras portuguesas, desenhando engrenagens que são parte desse patrimônio da cultura industrial.
Por isso, neste Dia Nacional do Patrimônio, mais uma vez, só tenho vontade de chorar.
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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O TALIAN NO MUSEU?

Começo relatando um fato não muito divulgado. Meu último trabalho de pesquisa na Universidade, antes de ser jubilado, foi ter elaborado e coordenado o projeto para encaminhar o registro do Talian como língua de imigração, um projeto piloto no Brasil, patrocinado pelo Ministério da Cultura. Como não sou linguista, criei uma equipe técnica de especialistas para realizar o trabalho.
O êxito do trabalho foi total: em novembro de 2014, o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico – IPHAN – acolheu o pedido e o Talian foi reconhecido oficialmente como integrante do patrimônio linguístico brasileiro, na categoria das línguas de imigração. A primeira a chegar ao pódio! Uma vitória tanto mais emocionante quanto mais se sabe a restrição que essa língua teve no passado, levando-a à beira da extinção.
Agora confesso que me assalta outro temor: o de o Talian ser considerado por pesquisadores linguísticos como uma peça arqueológica, que deve ser guardada, bem limpinha e atrás de um vidro inquebrável para ninguém tocar, dentro de um museu.
E a ideia não é essa. A ideia, ao tornar o Talian patrimônio nacional, é pô-lo de volta nas ruas, nas casas, nos meios de comunicação. É claro que um pouco de pó e de barro ele vai pegar. Mas isso acontece com todas as línguas vivas. Portanto, quanto mais pessoas tiverem interesse, mesmo comercial, em promover e divulgar o Talian, melhor. Elas estarão contribuindo para manter viva essa língua, agora patrimônio de todos, não só dos laboratórios.
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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

UNIVERSIDADE DE BUCARESTE

Tive o prazer de passar quase uma semana na Universidade de Bucareste, participando de um evento na área de Comunicação. A Faculdade de Jornalismo e Ciências de Comunicação foi a primeira criada pela Universidade assim que caiu o regime soviético, e está comemorando 25 anos. O encontro aconteceu no prédio da Faculdade de Direito, o mais antigo da Universidade, erguido em 1857, um verdadeiro monumento arquitetônico.
A Universidade teve três fases em sua história. A primeira começa em 1864, quando é criada, juntando as Faculdades de Direito, de Letras e de Ciências e vai até 1944, quando a Romênia é incorporada à União Soviética. A segunda fase inicia com essa incorporação e vai até a queda do Muro de Berlim, em 1989. De lá para cá vive ela sua terceira fase, com um lema muito significativo: Cultura e Descobrimento.
Nestes últimos 25 anos o empenho vem sendo o de recuperar espaços e ganhar avanços que foram limitados pelas autoridades comunistas. Começaram mudando o nome de Universidade de Bucareste para o de Academia do Povo da República Romena. Fecharam três Faculdades: a de Teologia, a de Filosofia e a de Ciências Sociais... E abriram as Faculdades de Química e de Física.
Em 1989, “após abusiva desestabilização de departamentos e faculdades”, conforme consta do catálogo atual da Universidade, havia apenas 6 faculdades e menos de 8 mil estudantes. Hoje ela se gloria de ter 19 faculdades, mais de 32 mil alunos e 3 mil professores. Dados todos que podem ajudar a pensar...
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