A cada vez
que se esboça na cidade um projeto, ou uma simples intenção, de preservar algum
elemento do patrimônio cultural, seja no plano das coisas materiais, seja das
imateriais, não falta quem diga, contrariado: “são uns saudosistas...”.
Saudosismo
pode ser uma palavra de conteúdo positivo. Saudade é um sentimento que ninguém
contesta. Mas não é com esse significado que são carimbados os que defenderam o
Cine Ópera, os que lutam pelo tombamento de prédios e sítios históricos, os que
insistem em que a língua Talián volte a ser cultivada, os que querem o desfile
da Festa da Uva no seu cenário histórico. Nesses casos, ser chamado de
saudosista significa ser acusado de inimigo do progresso. Como se não fosse
possível conciliar progresso com respeito ao passado.
O grande mal
das inteligências é o maniqueísmo, maneira de
pensar que é incapaz de cogitar
alguma composição de termos opostos, como entre o passado e o presente. Hoje o
maniqueísmo é mais conhecido pelo nome de radicalismo, que divide o mundo entre
o certo do lado de cá e o errado do lado de lá, como se isso fosse possível.
Gosto de
dizer que sou radical somente em um ponto. Sou radicalmente contra os
radicalismos de qualquer espécie. Fosse eu radical, diria que os que não aceitam
preservar nada do patrimônio do passado são iconoclastas que merecem a fogueira,
a mesma em que destroem o patrimônio, como o do Cine Ópera. Mas não sou de
extremos. Só defendo que manter a memória do passado é a base da saúde social.