É da cientista política Hannah Arendt o conceito de
“banalidade do mal”. No julgamento de Eichmann (há inclusive um filme sobre o
tema, que merece ser visto), ficou surpresa por ele se declarar inocente dos
atos que praticou para extermínio dos judeus. Ele não tinha nada pessoal contra
os judeus, declarou com firmeza. Fez tudo o que fez dentro da lei, apenas
cumpriu zelosamente as ordens que recebia, e não via mal nenhum nisso. Hannah escreveu
então seu mais famoso ensaio exatamente para mostrar como o mal pode ser banalizado.
Quer dizer, não é necessário ser um “monstro”, ou um
psicótico, ou um perverso para praticar o mal sem sentir culpa ou pelo menos
alguma cócega na consciência. Pessoas
normais podem chegar ao extremo do crime, em nome até mesmo de princípios que
podem ser tidos por racionais. Principalmente se elas se acham imbuídas de uma
causa meritória. Se o fim desejado é bom, dizem elas, todos os meios para
chegar a esse fim são também bons. Daí nasce o desbordamento do poder, na
direção da tirania ou da voracidade.
Na defesa desse comportamento, todas as artimanhas e artifícios
retóricos são utilizados, todos com sustentação de aparência lógica, racional e
até mesmo legal. Os denunciados se consideram todos inocentes. Não só isso: declaram-se
também injustiçados.
Pois é exatamente assim que o mal se torna banal. Até pessoas
que pareciam corretas podem, com algum poder na mão, desbordar do caminho certo.
A natureza humana é realmente difícil de ser entendida.