Esse título
é o de uma das obras mais bonitas de Elias Canetti, autor do livro intitulado Massa e Poder com que mereceu o Prêmio
Nobel, livro que, como já disse, é um dos dez que eu guardaria comigo se fosse
obrigado a ter só dez livros.
A Língua Absolvida é outra obra imprescindível. Canetti
nasceu na Bulgária e aos oito anos já tinha que lidar com quatro idiomas. É a
sina de quem usa uma língua situada nas franjas do poder etnopolítico: a de obrigar-se
a pôr de lado a língua que lhe dá identidade.
Nossa cidade
e esta região durante meio século tiveram sua própria língua, popularmente
chamada de Talián,empurrada para os porões por esse poder etnopolítico. Outro
meio século depois teve início o seu resgate, levado adiante por iniciativas
localizadas de algumas pequenas organizações. Até que, por iniciativa do IPHAN,
seguindo diretriz da Unesco, foi implantado um programa de resgate da
diversidade linguística do Brasil.
A primeira
língua reconhecida como patrimônio nacional nesse programa, foi o nosso Talián,
denominação que se impôs por razões etnográficas e linguísticas. Tornou-se
assim uma “língua absolvida”. Não posso deixar de exibir uma ponta de orgulho
por ter coordenado na UCS esse projeto, o último de minha vida acadêmica.
Agora, falta
o passo seguinte: iniciar um processo dinâmico de recuperação desse patrimônio,
a começar por nossas escolas. Um pouco eu já fiz, ao publicar os poemas deCantiRústeghi, com “tradussión” de
Cleodes Piazza para o dialeto “de supupá”. E isso lá em 1993!