segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

ESTAÇÕES

Nesta virada de ano, tem-se a impressão de que as estações enlouqueceram. As chuvas, principalmente, não cansam de inundar o Sul do Brasil, mais os países vizinhos. São as chuvas de verão, poderia alguém dizer, repetindo uma frase feita. Mas a marca das chuvas de verão, e por isso elas passaram a servir de metáfora do efêmero, era o de serem passageiras. E acontece também que as mesmas enxurradas, arrastando casas, carros e encostas, estão assustando a Inglaterra. E, a não ser que o planeta tenha enlouquecido de vez, na Inglaterra agora é inverno.
De Caxias do sul já se disse que a cidade consegue ter as quatro estações – as antigas: primavera, verão, outono e inverno – no mesmo dia. Também se disse que a cidade tem, de fato, apenas duas estações: o inverno e a estação rodoviária. Mas nada disso mais está valendo. Temos em definitivo apenas uma estação: a das chuvas.
Desconfio que até um pequeno poema que fiz há tempo, com o título de “Estações”, tenha também perdido a validade. Em todo o caso vai um pedaço dele aqui, como um salvado da enchente:

“estações
do dia, no giro das horas
do ano, no giro dos dias
da vida, no giro dos anos
estações
de partida e de chegada
estações
da flor, do fruto
estações”.
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

AFINIDADES

 Quando saiu meu romance O quatrilho, um crítico português o comparou, na forma e no tema, com o romance do escritor italiano Cesare Pavese, nascido em 1908. Obra e autor que eu nunca havia lido. Foi a partir daí que fui à sua procura e, de fato, encontrei pontos de afinidade com ele. Também ele fez poesia, também ele foi professor de Literatura e também ele não tinha estômago para suportar ditaduras...
Um livro de Pavese, Lavorare stanca (em português: Trabalhar cansa) sofreu com a censura fascista para ser editado: o título já era visto como uma provocação ao regime. Um outro poema dele, Il dio caprone (“o deus bode”) – que parece ter sido associado com a figura de Mussolini, talvez não por acaso – custou-lhe anos de isolamento na Calábria.
Mas censurar os poetas não foi só obra do fascismo ou da ditadura militar que tivemos no Brasil. Um poeta russo, Osip Mandelstam, foi condenado a trabalhos forçados em Vladivostok, na Sibéria, por causa de uns versos em que fazia humor com os bigodões, o uniforme, os gritos e as botas lustrosas de Stalin. Foram dezesseis versos que significaram sua sentença de morte: morreu na Sibéria de “paralisia cardíaca”.
Cesare Pavese, ao menos, pôde ainda dar o troco com estes versos: “Privando-me do mar, do espaço para andar e voar / o que vocês conseguiram? Cálculo brilhante: / vocês não conseguiram extirpar os lábios que se movem”.

Afinidades existem sempre entre os poetas. Como existem entre os ditadores, não importa a bandeira que ergam.
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

140 ANOS DEPOIS

Depois de 140 anos de “coabitação” cultural, nesta região de imigração italiana, parece claro para todos, ou quase todos, que as diferenças culturais são um patrimônio que não faz sentido ser eliminado. Ao contrário, a diferença deve ser cultivada. Onde não há diferenças, não há também trocas, não há comércio, não há tempero nas relações.
            Lévi-Strauss, na última vez em que falou na Unesco sobre políticas culturais, fez questão de frisar a necessidade da diferença, para que haja saúde social. Chegou a dizer que a diferença exige até mesmo certo grau de discriminação. Ela só não deve se manifestar de forma agressiva, ou excludente. Sem esse laivo pejorativo, ela pode ser base de uma convivência enriquecida pela possibilidade das trocas.
            Caxias do Sul, depois de 140 anos, é uma cidade pluricultural: além da cultura do gaúcho, com a qual o imigrante italiano iniciou o processo de mútuo aprendizado, conta ela hoje com a contribuição de inúmeras outras fisionomias culturais do Brasil inteiro, e mais, do mundo inteiro.

Será ela no futuro uma cidade sem rosto, igual a qualquer cidade de seu porte? Certamente não. A identidade nela criada é tão peculiar que resistirá à incerteza das mudanças. Há nela um patrimônio gravado tão fundo “na mente e no coração das pessoas”, tanto das que aí nasceram como das que chegam e aprendem sua história, que ela saberá resistir à corrosão do tempo. Essa parece ser a melhor herança amealhada, com pertinácia e coragem, nestes 140 anos de história da imigração.
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

TAMBÉM...

Lidar com as palavras parece fácil. Até a gente descobrir que pode não ser tão fácil como parece. Uma simples mudança de lugar de uma delas, na frase, pode mudar todo o sentido do que se pretende dizer. É lendo diferentes autores, de diferentes estilos, de diferentes épocas, até mesmo de línguas diferentes, que se descobre como é possível armar, com toda sutileza, e com grande economia verbal, pequenas surpresas. Quem não faz isso, erra sem nem perceber.
Para mostrar isso aos alunos, colocava diante deles, para que vissem alguma diferença de significado, as seguintes quatro frases, todas com as mesmas palavras: 1) também a gente anda a pé, 2) a gente também anda a pé, 3) a gente anda também a pé, 4) a gente anda a pé também.
A brincadeira consumia às vezes uma aula inteira, dependendo da agilidade da turma. Se o leitor quiser entrar na roda, vai ver que nenhuma delas coincide exatamente com o sentido das outras. É a palavrinha  “também” – que pode ser advérbio ou conjunção, é bom estar atento - que põe a bailar as outras.
Um dia o professor é quem foi surpreendido. Depois de terminado o exame de cada uma das sequências, um aluno levantou o dedo, com ar compenetrado, e falou:
- Professor, dá para fazer outra montagem com essas palavras. É só transformar o “também” numa interjeição. Bom, para isso é preciso acrescentar uma vírgula. E fica melhor colocando um ponto de exclamação no fim.
A turma inteira ficou em suspense. Ele então completou, triunfante:

- Também, a gente anda a pé!
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segunda-feira, 23 de novembro de 2015

NADA DE NOVO

Arnold Toynbee, historiador britânico (1889-1975), ficou famoso com uma obra de história universal em que analisa os confrontos entre civilizações como os maiores geradores de conflitos e guerras. Pôs em segundo plano os problemas gerados pelos nacionalismos, embora eles tenham nos dado a segunda guerra mundial.
Finda essa guerra, Toynbee escreveu dois livros a partir da pergunta: e agora, o que vai ser da humanidade? Viverá o conflito do capitalismo versus comunismo, como parecia apontar o cenário mundial? Pois bem, Toynbee, com base em seu princípio, previu que a União Soviética iria se desfazer, porque comunismo e capitalismo não são duas civilizações, são apenas duas ideologias. Como se viu, acertou em cheio na previsão.
Toynbee fez outra previsão ainda mais inacreditável na época em que escreveu, em plena Guerra Fria. A humanidade voltaria a ter uma guerra de civilizações entre o islamismo e o cristianismo. Em sua análise, islamismo de um lado e cristianismo do outro conseguem mobilizar populações inteiras, acima das fronteiras nacionais. Um e outro podem parecer debilitados, mas, havendo uma crise, estarão prontos para o confronto. As duas civilizações pretendem se tornar universais, uma assentada no oriente e outra no ocidente e não arredam pé dos próprios valores. Em nomes deles, irão até mesmo para a guerra total, com um objetivo radical: exterminar o inimigo.

Isso tudo, em detalhes, está lá em Toynbee, numa obra de 1950. Não há nada de novo debaixo do sol...
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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

RESTRIÇÃO MENTAL

Meu professor de História da Igreja dava o seguinte exemplo para explicar concretamente o que significa restrição mental:
“Chega um grupo de soldados armados, que batem com força na porta de um convento, à procura de um fugitivo. Sai de dentro um frade, assustado, e o capitão pergunta, com toda a força de sua autoridade: - ‘Fulano entrou por aqui?’ O frade sabe que o fugitivo está refugiado no convento. Enfia então a mão direita por dentro da manga do braço esquerdo e responde, com toda candura: ‘Não, por aqui não entrou ninguém’. Os soldados vão embora e o frade respira aliviado. Ele não mentiu, o que ele quis dizer é que ninguém tinha entrado por sua manga. O capitão é que interpretou errado”.
Outro exemplo. Chega uma vizinha e pergunta: ‘Tem ovos em casa?’ A dona da casa responde: ‘Não, não tenho’, enquanto pensa ‘não tenho para te dar’.
Na Igreja Católica houve durante muito tempo um debate sobre se esse tipo de escapatória devia ser considerado mentira ou não. Uma corrente afirmava que a restrição mental era não só mentira como uma rematada hipocrisia. Outra corrente a considerava um recurso a que se podia recorrer para fugir de algum perigo: não era uma mentira, mas uma “epiqueia”. Parece que as duas posições continuam tendo defensores.

O presidente da Câmara dos deputados deve estar bem informado nesse assunto, a julgar por sua linha de defesa: ‘Não menti, nunca tive conta na Suíça’, enquanto pensa: “conta em meu nome, eu quero dizer’. Como o frade e a dona dos ovos.
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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

DIVERSIDADE LINGUÍSTICA

A Casa das Etnias estará realizando neste fim de mês um Seminário da Diversidade Linguística. A iniciativa é sinal de quanto os tempos mudaram, desde a época em que a “unidade nacional” exigia também a “unidade de língua”. Até nomes de lugares que remetiam a alguma língua diferente do padrão nacionalista, tiveram de ser mudados. E não só Nova Milano e Nova Roma, que tiveram seus nomes trocados por Emboabas e Guaicurus. Até Monte Belo, na época distrito de Bento Gonçalves – descobri isso há pouco! – teve que engolir por alguns anos o nome de Caturetã!
Foi necessária uma Convenção da Unesco, promulgada em 2005, para que os países membros, aí incluído o Brasil, passassem de uma política de “tolerância” para uma politica “propositiva” com relação à diversidade cultural, em especial a diversidade linguística. No embalo dessa tomada de posição é que propus, em 2006, o slogan “A alegria de estarmos juntos” para a nossa Festa da Uva. E foi nessa nova onda que o Ministério da Cultura brasileiro criou um programa especial para  identificar, resgatar e reconhecer como patrimônio cultural as línguas de imigração. É nesse horizonte que temos hoje o Talian reconhecido como língua a ser preservada e cultivada, depois de ter sido objeto de escárnio e de exclusão social e política.

Do ato oficial até a tomada de posição da sociedade, inclusive a detentora desse patrimônio, muitos passos ainda precisam ser dados. O Seminário agora programado pode sinalizar rumos futuros.
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terça-feira, 20 de outubro de 2015

NO DETALHE

As narrativas históricas, até por questão de método, acostumaram-se  - e nos acostumaram – com visões amplas, em perspectiva, quase beirando a abstração científica. Para preencher o espaço concreto da percepção é que surgiram as narrativas de ficção, sem maior compromisso com a “verdade histórica”, pondo ênfase na “semelhança com a realidade”.
Mas é possível se fazer ciência sobre o passado sem perder contato com a experiência real, quase física, das pessoas que viveram nele. É o que podemos encontrar, com detalhes, no livro “Estrada Rio Branco: o caminho da emancipação”, de Luiz E. Brambatti, lançado, em 2ª edição,  na última Feira do Livro.  Percorrendo suas páginas, ilustradas com fotografias antigas e atuais, tem-se a impressão de se estar andando entre pedras e barro, montanha acima, passando por Nova Palmira, por uma estrada “de trinta palmos de largura [...] terminando no Campo dos Bugres”  (p.56). Ela ligou a colônia Caxias com o mercado do Caí e de Porto Alegre, além de estreitar uma relação de trocas comerciais e culturais com os Campos de Cima da Serra.
De um Motter, antigo morador da beira dessa estrada, ouvi  que “Nova Palmira era uma vila que tinha tudo, até cadeia”. Quando menino, seu pai enchia a carreta de produtos para vender em Caxias. Subiam a “estrada da Terceira Légua”, que é a mesma Rio Branco, com um detalhe: tinham que sair no começo da noite para chegar em Caxias de manhã. O livro de Brambatti resgata toda essa trajetória, num convite para ser visitada.
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terça-feira, 6 de outubro de 2015

“DANOS COLATERAIS”

Depois de os ianques bombardearem um hospital no Afeganistão – atendido pela organização humanitária Médicos sem Fronteiras, deixando mortos enfermeiros e pacientes, entre eles três ou quatro crianças – o porta-voz do exército americano declarou que se tratava apenas de um caso de “danos colaterais”.
“Danos colaterais” é o que mais tem marcado as invasões justiceiras dos Estados Unidos. Outro dia circulou pelas agências de notícias, em tom de escândalo, que o Estado Islâmico “já” matou mais de três mil pessoas. E quantos civis os Estados Unidos mataram só na invasão do Iraque, baseada num pretexto sem fundamento? Quase cem mil. E não me lembro de que esse número tenha sido martelado na mídia.
Cada monumento antigo demolido pelos islamitas ganha destaque. Um destaque nunca feito quando os aviões americanos destruíram quase todo o imenso patrimônio cultural de Bagdá. Isso também foram “apenas danos colaterais”, justificáveis pela missão dos que se investem em salvadores do mundo.
Esse meu sentimento de repúdio não é de hoje. Revendo as gavetas, encontrei um poema que escrevi em 1963, nunca publicado, quando os americanos diziam nos ajudar com a “Aliança para o Progresso”. O poema começa assim:
Eu vou falar a verdade / do americano do norte. /Que ninguém ache meu verso / pesado ou muito forte. // Eles são muito sabidos / para fazer tapeação / se fingem de inocentes / e devoram sem perdão.

Metade de um século depois, minha opinião continua exatamente a mesma.
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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

ENCHENTE DE SÃO MIGUEL (conto)

Contam que é assim, eu não sei se é.
            Uma vez o padroeiro desta terra aqui do pampa era São Miguel. Mandava na chuva, no vento, na geada. Na neve, se fosse o caso. Foi no tempo em que os castelhanos eram donos, mandavam e desmandavam na indiada toda. Ainda está lá, para quem quiser ver, o que sobrou da igreja de São Miguel das Missões, uma senhora igreja.
            Acontece que um tempo depois chegaram os portugueses pelo lado do mar e botaram São Pedro de padroeiro, o São Pedro do Rio Grande. E foram avançando, e avançando, até tomar a terra toda dos castelhanos. E deram, a essa terra toda, o nome de Continente do Rio Grande de São Pedro. Depois, muito depois, é que mudou para Rio Grande do Sul.
            São Pedro, todo mundo sabe, é o dono das chaves do céu. Nuvens, vento, chuva, é tudo controlado por ele. O pobre do São Miguel ficou sem o pedaço de mando dele no céu, igual aos castelhanos que perderam o mando na terra. Aí, numa boa, São Pedro autorizou São Miguel a mandar uma chuva por ano, que era para ser a chuva de São Miguel.
            Então, contam, São Miguel aproveita para tirar o atraso. Manda chuvaradas e chuvaradas, quase sempre aí pelo fim de setembro, perto do dia dele, que é o dia 29. Por isso é que elas ficaram conhecidas por esse nome de enchente de São Miguel.
            De uns tempos para cá, a data não é muito respeitada, mas a enchente de São Miguel acontece sempre: seis meses antes ou seis meses depois, mas acontece.

            Contam que é assim, eu não sei se é.
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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

RESPOSTAS AOS CURIOSOS

 Aí vão respostas para perguntas que me são feitas com frequência:

1.     Quem sou? Para ser franco, nem eu sei bem quem é o escritor José Clemente Pozenato.
2.     Quando comecei? Comecei a escrever, ou a acreditar que podia escrever, quando descobri que podia escrever melhor do que alguns escritores que eu lia.
3.     Qual a obra preferida? Cada obra teve um gosto especial; gostei de escrever cada uma delas.
4.     Momento marcante? Certamente foi a indicação do filme O Quatrilho, baseado em meu romance, para o Oscar, em 1996. Ficou na história!
5.     Onde a inspiração? Minha inspiração vem do que eu observo no comportamento das pessoas. Olho, olho, ouço, ouço e depois invento.
6.     Como escrevo? Escrevo para todos entenderem. Uns entendem mais, outros menos, mas na vida também é assim.
7.     Poesia, conto, romance? Me dou bem tanto com a poesia como com o romance e o conto. Há coisas que dá para dizer com a poesia. Outras só com um romance.
8.     Há escritores bons? Há muita gente escrevendo bem. Uma vez havia quatro ou cinco que se destacavam, era mais fácil. Hoje a “concorrência” é maior.
9.     Como ser escritor? Gostar de escrever já é o primeiro passo. O segundo é estudar as técnicas. Escrever também exige domínio técnico, que se aprende observando como os bons escritores escrevem. Hoje existem as oficinas literárias, que ajudam bastante.
10.                        O desejo do autor? A maior satisfação do escritor é ter leitores que têm curiosidade pelo que ele faz. Você, lendo o que escrevo, me dá essa satisfação.
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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ONDULAÇÕES TRANSVERSAIS

 Saiu a notícia de que a BR, no trecho em que atravessa a cidade vai ter, finalmente, ondulações transversais. Esse é o termo técnico usado pelo CONTRAN para designar os quebra-molas, ou lombadas. O curioso é que lá pelas tantas – na mesma ordem de serviço, ou portaria, que regulamenta ditas ondulações transversais – o órgão disciplinador do tráfego determina que seja fixada sinalização com a palavra “saliência” ou a palavra “lombada”...
Sei que muita gente que anda de carro não gosta de quebra-molas, tanto que na cidade de Caxias do Sul elas foram retiradas, alguns anos atrás. Em Galópolis, eles continuaram (se não erro na conta são cinco ao todo), por decisão judicial impetrada pelos moradores do lugar. E se não estou equivocado, não houve mais nenhum atropelamento nesse trajeto.
Pois a cidade de Caxias do Sul, com atropelamentos quase diários na BR, além de não ter conseguido a mordomia das passarelas – que só beneficiam a Grande Porto Alegre – estava proibida de ter até mesmo as prosaicas lombadas, ou quebra-molas, ou saliências, ou ondulações transversais.
As lombadas só apresentam dois problemas: o de chegarem tarde e o de serem ainda em pequeno número. Desde o tempo de Montaigne, o bom senso indica que as cidades existem para as pessoas viverem nela, e não para serem atropeladas pelas carruagens. Foram-se as carruagens com seu par de cavalos a galope, e entraram em cena carros com dezenas de cavalos cada um, em louca disparada.
Bem vindas as lombadas.
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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SEMANA DO PATRIMÔNIO

Caxias do Sul tem, a partir deste ano de 2015, de forma institucional, a Semana Municipal de Valorização do Patrimônio Histórico e Cultural, criada a partir de Projeto de Lei da Câmara de Vereadores. A data é fixa, de 13 a 20 de agosto, para antecipar e prolongar o Dia do Patrimônio Nacional, hoje, 17 de agosto.
Quem lida na identificação, preservação e valorização do patrimônio cultural – três etapas indissociáveis entre si – sabe que se trata de uma luta inglória. Tenho na bagagem várias lutas inglórias. Algumas terminaram com derrota completa, como a do Cine Ópera. Outras não foram tão completas, mas trouxeram algum grau de destruição do patrimônio.
Já fui chamado de saudosista, pecha infamante criada pela racionalidade progressista. Já me foi dito que é “lei da natureza” que o antigo seja destruído para dar lugar ao novo. Já ouvi ser chamada de “trambolho” a área da estação férrea, onde Caxias nasceu como cidade.
É realmente muito difícil identificar, preservar e valorizar o patrimônio cultural e histórico aqui em Caxias. Agora mesmo, nas obras de modernização da rua Sinimbu, em nome do progresso e da mobilidade urbana, foi arrancada uma tira inteira da calçada na frente da Metalúrgica Eberle. Ninguém se lembrou de que essa calçada é tombada como patrimônio histórico. Ninguém deu bolas ao fato de que são pedras portuguesas, desenhando engrenagens que são parte desse patrimônio da cultura industrial.
Por isso, neste Dia Nacional do Patrimônio, mais uma vez, só tenho vontade de chorar.
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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O TALIAN NO MUSEU?

Começo relatando um fato não muito divulgado. Meu último trabalho de pesquisa na Universidade, antes de ser jubilado, foi ter elaborado e coordenado o projeto para encaminhar o registro do Talian como língua de imigração, um projeto piloto no Brasil, patrocinado pelo Ministério da Cultura. Como não sou linguista, criei uma equipe técnica de especialistas para realizar o trabalho.
O êxito do trabalho foi total: em novembro de 2014, o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico – IPHAN – acolheu o pedido e o Talian foi reconhecido oficialmente como integrante do patrimônio linguístico brasileiro, na categoria das línguas de imigração. A primeira a chegar ao pódio! Uma vitória tanto mais emocionante quanto mais se sabe a restrição que essa língua teve no passado, levando-a à beira da extinção.
Agora confesso que me assalta outro temor: o de o Talian ser considerado por pesquisadores linguísticos como uma peça arqueológica, que deve ser guardada, bem limpinha e atrás de um vidro inquebrável para ninguém tocar, dentro de um museu.
E a ideia não é essa. A ideia, ao tornar o Talian patrimônio nacional, é pô-lo de volta nas ruas, nas casas, nos meios de comunicação. É claro que um pouco de pó e de barro ele vai pegar. Mas isso acontece com todas as línguas vivas. Portanto, quanto mais pessoas tiverem interesse, mesmo comercial, em promover e divulgar o Talian, melhor. Elas estarão contribuindo para manter viva essa língua, agora patrimônio de todos, não só dos laboratórios.
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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

UNIVERSIDADE DE BUCARESTE

Tive o prazer de passar quase uma semana na Universidade de Bucareste, participando de um evento na área de Comunicação. A Faculdade de Jornalismo e Ciências de Comunicação foi a primeira criada pela Universidade assim que caiu o regime soviético, e está comemorando 25 anos. O encontro aconteceu no prédio da Faculdade de Direito, o mais antigo da Universidade, erguido em 1857, um verdadeiro monumento arquitetônico.
A Universidade teve três fases em sua história. A primeira começa em 1864, quando é criada, juntando as Faculdades de Direito, de Letras e de Ciências e vai até 1944, quando a Romênia é incorporada à União Soviética. A segunda fase inicia com essa incorporação e vai até a queda do Muro de Berlim, em 1989. De lá para cá vive ela sua terceira fase, com um lema muito significativo: Cultura e Descobrimento.
Nestes últimos 25 anos o empenho vem sendo o de recuperar espaços e ganhar avanços que foram limitados pelas autoridades comunistas. Começaram mudando o nome de Universidade de Bucareste para o de Academia do Povo da República Romena. Fecharam três Faculdades: a de Teologia, a de Filosofia e a de Ciências Sociais... E abriram as Faculdades de Química e de Física.
Em 1989, “após abusiva desestabilização de departamentos e faculdades”, conforme consta do catálogo atual da Universidade, havia apenas 6 faculdades e menos de 8 mil estudantes. Hoje ela se gloria de ter 19 faculdades, mais de 32 mil alunos e 3 mil professores. Dados todos que podem ajudar a pensar...
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segunda-feira, 27 de julho de 2015

PÃO BRANCO

O Dr. Couty, um francês, esteve no Rio de Janeiro, trazido por D. Pedro II, para ser professor de “biologia industrial”. Couty não era apenas um naturalista curioso da flora e fauna brasileiras: via os recursos biológicos em perspectiva econômica, ou industrial, como ele denominava seu foco de estudo. Para fazer uma avaliação de nosso país a esse respeito, percorreu o Brasil de ponta a ponta, do Piauí ao Rio Grande do Sul.
Nos relatórios que publicou numa revista francesa, o Dr. Couty faz uma análise detalhada dos hábitos alimentares do povo: o que se comia e como era preparada a comida. E até mesmo que gosto tinha, porque o Dr. Couty provou desde o angu e a feijoada, no Norte, até a carne seca e a erva-mate aqui no Sul.
Surpresa para ele foi descobrir que o pão não fazia parte dos hábitos alimentares do povo. Os pratos de resistência eram, pela ordem, o angu, o feijão, a mandioca. Chama a atenção para o fato de que o Brasil, ao contrário da Argentina, não cultivava o trigo.
O relatório é de 1881, o que significa que o Dr. Couty não chegou a conhecer o plantio de trigo que começava nas colônias italianas. O cultivo do trigo foi uma das colunas mestras da economia local e a introdução do moinho a cilindro, iniciada por Germani, permitiu que se produzisse farinha de trigo de primeira qualidade no país.
Essa história revela o quanto o sonho do camponês italiano, que veio para cá sonhando em ter pão branco na mesa, foi capaz de desenvolver no Brasil uma cultura do pão, que não existia.
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segunda-feira, 20 de julho de 2015

A CULTURA INDUSTRIAL

A Unesco tem estimulado a que se preserve o que ela designa de “Patrimônio cultural imaterial da indústria”. Ele se insere no tema da Memória do Trabalho, que tem sido até agora valorizada quase que somente no campo do artesanato e dos ofícios individuais de mestres no domínio de determinadas técnicas. Os saberes da indústria não são menos ricos – acrescidos que em quase todos eles há uma soma de saberes coletivos – e, com o fim da era industrial, a que estamos assistindo, correm grande risco de desaparecimento.
Nesse âmbito, há um leque muito grande de temas para pesquisa e ações de preservação, especialmente num ambiente tão rico nesse patrimônio como é Caxias do Sul. Diversas dessas ações estão em andamento na cidade, algumas já visíveis, outras ainda em processo de gestação. O trabalho que vem sendo feito em Galópolis está dentro dessa linha de preocupação. Aí pode ser revisitado, como se fosse um museu ao ar livre, o ambiente visual de uma pequena cidade totalmente organizada para o funcionamento de uma indústria.
Outro espaço que vem atraindo a atenção e provocando estudos e debates é  o da Maesa, que teve um período áureo em Caxias do Sul e região. Há muitas propostas para a sua utilização. A mais ouvida nas ruas é de que funcione ali um Mercado Público. Uma ideia plausível, com certeza. Mas o que não pode faltar ali é o resgate do “patrimônio imaterial da indústria”, como quer a Unesco, que tem patrocinado projetos nesse sentido.
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segunda-feira, 13 de julho de 2015

TRIGO E MILHO

A primeira imagem da Romênia, quando o avião desceu no aeroporto de Bucareste, foi a de uma planície de trigais recém-colhidos, a perder de vista. Entre eles, tiras de cor verde que, mais perto do chão, deu para ver serem plantações de milho. São as duas culturas principais dos campos romenos. No início do verão é colhido o trigo e plantado o milho.
Resultado disso é que, nas mesas de Bucareste, o pão é excelente, e a polenta faz parte dos melhores cardápios. Uma polenta igual à que se faz aqui, com aquela farinha grossa herdada dos moinhos de mós de pedra, e a textura macia que ela tem antes de ser frita ou assada.
Mas a Romênia impressiona em muitos outros sentidos. Duvido que haja no mundo cidade com parques tão numerosos, tão grandes e tão bem cuidados. Outro detalhe surpreendente: no espaço entre a calçada e os prédios, atrás das cercas, não há gramados cultivados como por aqui. Cresce ali uma vegetação espontânea e silvestre, com toda variedade de abelhas, besouros, insetos e cogumelos.

Bucareste surpreende mais ainda pelo tipo de cultura vivido na cidade. A România fundada pelo imperador Adriano foi depois território eslavo, assumiu o alfabeto cirílico, depois o substituiu pelo alfabeto latino. Procurou ser uma pequena Paris, “Picul Paris”, ficou sob a foice e o martelo do final da Segunda Guerra até a queda do muro de Berlim. Traços dessa trajetória são bem visíveis. Eu já gostava da literatura romena. Agora aprendi a gostar dessa terra de fronteiras, reais e imaginárias.
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segunda-feira, 22 de junho de 2015

SAUDOSISTAS?

A cada vez que se esboça na cidade um projeto, ou uma simples intenção, de preservar algum elemento do patrimônio cultural, seja no plano das coisas materiais, seja das imateriais, não falta quem diga, contrariado: “são uns saudosistas...”.
Saudosismo pode ser uma palavra de conteúdo positivo. Saudade é um sentimento que ninguém contesta. Mas não é com esse significado que são carimbados os que defenderam o Cine Ópera, os que lutam pelo tombamento de prédios e sítios históricos, os que insistem em que a língua Talián volte a ser cultivada, os que querem o desfile da Festa da Uva no seu cenário histórico. Nesses casos, ser chamado de saudosista significa ser acusado de inimigo do progresso. Como se não fosse possível conciliar progresso com respeito ao passado.
O grande mal das inteligências é o maniqueísmo, maneira de  pensar que é  incapaz de cogitar alguma composição de termos opostos, como entre o passado e o presente. Hoje o maniqueísmo é mais conhecido pelo nome de radicalismo, que divide o mundo entre o certo do lado de cá e o errado do lado de lá, como se isso fosse possível.
Gosto de dizer que sou radical somente em um ponto. Sou radicalmente contra os radicalismos de qualquer espécie. Fosse eu radical, diria que os que não aceitam preservar nada do patrimônio do passado são iconoclastas que merecem a fogueira, a mesma em que destroem o patrimônio, como o do Cine Ópera. Mas não sou de extremos. Só defendo que manter a memória do passado é a base da saúde social.
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segunda-feira, 15 de junho de 2015

CULTURA DA IMIGRAÇÃO – 3

Carlin Fabris foi morador de Conceição da Linha Feijó e deixou escrita uma “Istoria de Conceição” (sic), que é uma fonte inesgotável a ser explorada para ajudar a entender como se deu a aculturação do imigrante italiano no Brasil.
Logo de início, Carlin Fabris, referindo-se à chegada dos imigrantes, faz a seguinte frase: “vieram para ter progresso e grandeza nesta nova pátria, nesta bendita terra do Cruzeiro do Sul Brasil”. É uma frase nitidamente com sabor de linguagem escolar, voltada para ensinar às crianças o sentimento patriótico. O interessante é que Carlin Fabris projeta essa visão do ideário republicano para o passado, como se quem saiu da Itália tivesse como projeto contribuir para o progresso e a grandeza do Brasil.
Por trás dessa projeção há, contudo, um dado concreto: o fato de a geração de Carlin Fabris, uma ou duas gerações depois da imigração, ter incorporado essa ideologia do progresso, de origem republicana, como ideologia também do processo histórico ocorrido na região de colonização italiana. Ou seja, ao contrário do que temiam os nacionalistas ferozes dos anos de 30 e 40, o imigrante italiano estava totalmente imergido na nacionalidade brasileira.
Alguma provável exceção  não é suficiente para algumas generalizações discriminatórias que foram feitas. Isto é, e me repetindo, não houve um projeto de criar uma cultura italiana no Brasil. O que houve foi a criação de uma cultura da imigração italiana, dentro de um processo normal nessa circunstância.
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segunda-feira, 8 de junho de 2015

CULTURA DA IMIGRAÇÃO – 2

Voltando ao tema da semana passada, sobre como aqui se construiu uma “cultura da imigração italiana”, e não, simplesmente, se transplantou uma “cultura italiana”, veja-se como se transformaram as relações de vizinhança.
A experiência vivida nas regiões de emigração, com poucas exceções, era a de uma vizinhança  próxima, em pequenas aldeias – os paesi. De sua casa na aldeia, o agricultor se dirigia para as terras de cultivo que, note-se, nem eram de sua propriedade. Aqui, o regime de colônias, com propriedades familiares acima de 20 hectares, obrigava o imigrante italiano a residir na propriedade. Com isso, os vizinhos mais próximos já não estavam ao lado, mas a meio quilômetro, a um quilômetro de distância, separados ainda, muitas vezes, pela floresta e por caminhos quase intransitáveis.
Não é difícil de imaginar o quanto as relações de vizinhança, fundamentais para toda organização humana, se modificaram nesse cenário. No dia a dia, cada família vivia isolada nos seus afazeres. Para o encontro de vizinhos, diferente do que ocorria na Itália, seria necessária a criação de ocasiões especiais.
O filó, que já na Itália existia como reunião de vizinhança e lazer, mudaria em parte, aqui, sua função. Passaria a ser também um encontro de apoio mútuo, talvez, principalmente, como conforto psicológico para o isolamento em que cada família vivia. Mais uma vez, não houve o puro e simples transplante de um costume, mas a sua reinvenção em vista de novas necessidades.
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segunda-feira, 1 de junho de 2015

CULTURA DA IMIGRAÇÃO

É bastante comum ouvirmos a expressão “cultura italiana no Rio Grande do Sul”.  Na realidade, não existe uma “cultura italiana” entre nós, mas uma “cultura da imigração italiana”, construída com a herança trazida de além-mar mais o patrimônio encontrado aqui, da língua à comida, das crenças aos métodos de trabalho e aos costumes da vida em sociedade..
A primeira escolha de quem emigra é ter de selecionar o que irá manter e o que irá abandonar da sua cultura de origem. Vamos tomar o exemplo mais perto do chão, o das técnicas de cultivo. Os imigrantes italianos, pela prática e pela observação, sabiam como plantar, cultivar e colher o trigo, o milho, o feijão, as batatas. Mas ter de cultivar um terreno coberto de árvores gigantescas, onde vivem animais e insetos desconhecidos, obrigou à adoção e à descoberta de novas práticas agrícolas.
Paolo Rossato, em suas cartas aos parentes, descreve em minúcia a derrubada do mato, a queima, a capina no meio das toras que ficam inteiras, apodrecendo, o plantio do milho: “quatro ou cinco grãos por cova, à distância de um metro uma da outra”. Dá ainda detalhes de como matar as formigas, de como e onde cultivar as videiras, das ferramentas usadas para o trabalho: tudo diferente do que era na Itália!
Só nas atividades menos condicionadas pelo ambiente físico os costumes foram sendo mantidos sem maiores mudanças. Entre eles, os da cultura do comer, que também foi reinventada aqui, não por vontade mas por necessidade. Uma inovação dentro da tradição.
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segunda-feira, 25 de maio de 2015

DIZER “NÃO”

Quando Geraldo Vandré, num Festival Brasileiro da Canção dos anos dourados, que era o outro lado dos anos de chumbo, cantou “Disparada”  com aquele verso “Aprendi a dizer ‘não’” a plateia presente entrou em delírio. Foi em 1966, na Record. Nada a estranhar, portanto: cantor e público pertenciam à mesma geração da frase “é proibido proibir”.
Agora saiu em livro uma pesquisa, de Tania Zagury, que  investigou a geração de pais da época de “Disparada” e descobriu um dado impressionante: os pais, que se vangloriavam de ter aprendido a dizer “não”, foram incapazes de dizer “não” para os filhos. Resultado: filhos inseguros, incapazes de aceitar críticas e de rever as próprias posições. Uma geração que tende a achar que está sempre certa e a assumir posições dogmáticas, fundamentalistas, radicais. A geração que vem depois dessa é tão irresponsável que deixa os filhos para os avós cuidarem. E acham que é o certo. Tudo isso está na pesquisa.
Bem, esse é o extremo a que se está chegando, o de não aceitar um “não” de ninguém. Isso me faz lembrar outro extremo. Em 1934, quando o balão dirigível Graf Zeppelin sobrevoou Porto Alegre e redondezas, com seus 236 metros de comprimento, ele passou também por São Leopoldo. O Padre Reus, sim, o Padre Reus, estava dando aula no colégio dos jesuítas. Alguns alunos tentaram ir à janela para ver o Zeppelin e ouviram um sonoro “Não!” do Padre Reus: “Aula é aula, voltem para os lugares!”
O que eu penso disso? Cada um faça a filosofia que achar melhor. 
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segunda-feira, 18 de maio de 2015

ELOY LACAVA

Comemoram-se nesta semana os 140 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos na localidade de Nova Milano, então sede da colônia – que por iniciativa política de Feijó Junior teria local e nome mudados para a depois Colônia Caxias.
É uma data em que voltam à tona lembranças, acontecimentos, registros e monumentos. Mas, sobretudo, é uma data que chama a atenção nacional para a contribuição dos imigrantes na construção da identidade brasileira, sem repetir a “balela das três raças fundadoras”, como apostrofou o antropólogo Roberto Da Matta.
A data é também oportuna para revisitar a literatura produzida tendo essa experiência imigratória como tema. Ela é bem maior e mais sortida do que supõe a vã filosofia da pressa de nosso tempo. Para começar, trago à tona o nome de Eloy Lacava, submergido, ao que parece, em quase total esquecimento.
Eloy Lacava publicou em 1986 o romance  “Arrivederci no Paraíso”, pondo as duas línguas no título para caracterizar a passagem de um lado para outro do mundo. A narrativa põe em cena um casal de imigrantes que sai de Montebelluna para a aventura de começar vida nova aqui na Colônia Caxias. Um ano depois, Lacava publicou outro romance, com o título de “Vinho Amargo”, centrado nos acontecimentos  da revolução de 1923.
Eloy Lacava mistura ficção com fatos e nomes reais, jornalista que foi a vida inteira. Mas sabe construir cenas do cotidiano e penetrar no interior das motivações. E expor os conflitos políticos, nunca resolvidos, dos “colonos” com a ideologia dominante.
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segunda-feira, 11 de maio de 2015

GOSTO DE UVA



Quem vem de fora, como eu, acaba descobrindo na cidade de Caxias do Sul coisas e sabores que quem nasceu e viveu sempre dela às vezes não percebe. Mais uma prova disso é o livro que acaba de ser lançado, com o título de “Isabella em Contos”, da autoria de Luiz Carlos Ponzi. Ele nasceu em Guaporé antes de fazer de Caxias a sua cidade. Não apenas como seu habitante, mas deixando-se penetrar dela em todos os sentidos, físicos, emocionais e mentais.
Ponzi já havia dado a público, em 2002, uma história do Bar Treze, um local que fez história como ponto de encontro para passar tempo e para fazer política. Principalmente fazer política. Agora seu olhar atento elabora uma coletânea de onze  quadros – de ficção desta vez – mostrando uma cidade com o nome de Isabella, homenagem à “uva Isabella”, entre os anos de 1905 e 2005: uma narrativa para cada início de nova década.
Um tom bem humorado percorre cada um dos contos, dando uma das dimensões subjacentes à cultura desta cidade: a vontade de rir de tudo, principalmente de si própria. O autor inventa até uma história em que Luiz Carlos Prestes desembarca em “Isabella” onde, como diz o título do conto “a revolução do proletariado se atrapalha”.
Nesse sentido, “Isabella em Contos” filia-se a uma das obras fundadores da literatura local, “Pesos e Medidas”, do saudoso Ítalo Balen, em que a crônica dos fatos vem o tempo todo perpassada de riso. O que é muito bom. Rabelais já nos mostrava que quem não sabe rir não sabe também viver.
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segunda-feira, 4 de maio de 2015

COISAS DE HOSPÍCIO

Acabo de ler um livro que foi editado em 2013 e em dezembro de 2014, pouco mais de um ano depois, chegava à 12ª edição. O livro se intitula “Holocausto Brasileiro” e sua autora é a jornalista Daniela Arbex. O tema é a história de um hospício, na cidade de Barbacena, em Minas Gerais. O título dado à obra faz sentido: praticou-se nele um extermínio semelhante ao dos campos de concentração nazistas, com mais de 60 mil mortos.
Lendo essa história terrível, veio-me à mente um quadro de informações que tive em mãos quando escrevi o romance “A Cocanha”. O Hospício São Pedro, em Porto Alegre, inaugurado em 1884, foi o destino de muitos imigrantes italianos. Alguns perdiam o juízo, como se dizia, ou entravam  em depressão, como se diria hoje, diante das enormes dificuldades que tinham de enfrentar para sobreviver. Mas a maioria dos que eram lá internados era de viciados em bebidas alcoólicas – também um recurso para se evadir dos problemas – com o diagnóstico técnico de “psicose hetero-tóxica”.  No período que vai até 1900, cerca de quatrocentos imigrantes foram piedosamente encaminhados ao São Pedro, por intermediação das autoridades das colônias e por padres, em nome da paz das famílias.
No meu romance cuidei de não ocultar esse tipo de problema sem, no entanto, carregar nas tintas. Procurei ficar no limite para não fazer uma narrativa de glorificação de heróis que não existiram nem, no outro extremo, desfilar situações de desgraça que de fato existiram. Ainda hoje acho que fiz bem.
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segunda-feira, 27 de abril de 2015

A BANALIDADE DO MAL

É da cientista política Hannah Arendt o conceito de “banalidade do mal”. No julgamento de Eichmann (há inclusive um filme sobre o tema, que merece ser visto), ficou surpresa por ele se declarar inocente dos atos que praticou para extermínio dos judeus. Ele não tinha nada pessoal contra os judeus, declarou com firmeza. Fez tudo o que fez dentro da lei, apenas cumpriu zelosamente as ordens que recebia, e não via mal nenhum nisso. Hannah escreveu então seu mais famoso ensaio exatamente para mostrar como o mal pode ser banalizado.
Quer dizer, não é necessário ser um “monstro”, ou um psicótico, ou um perverso para praticar o mal sem sentir culpa ou pelo menos alguma cócega na consciência.  Pessoas normais podem chegar ao extremo do crime, em nome até mesmo de princípios que podem ser tidos por racionais. Principalmente se elas se acham imbuídas de uma causa meritória. Se o fim desejado é bom, dizem elas, todos os meios para chegar a esse fim são também bons. Daí nasce o desbordamento do poder, na direção da tirania ou da voracidade.
Na defesa desse comportamento, todas as artimanhas e artifícios retóricos são utilizados, todos com sustentação de aparência lógica, racional e até mesmo legal. Os denunciados se consideram todos inocentes. Não só isso: declaram-se também injustiçados.
Pois é exatamente assim que o mal se torna banal. Até pessoas que pareciam corretas podem, com algum poder na mão, desbordar do caminho certo. A natureza humana é realmente difícil de ser entendida. 
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segunda-feira, 20 de abril de 2015

A MURALHA DA MAESA

Fui convidado para acompanhar uma visita técnica ao prédio da Maesa, tombado como patrimônio histórico e cultural. A maior parte do grupo de especialistas só conhecia a fábrica do lado de fora e tinha, portanto, uma ideia muito superficial do conjunto.
A primeira surpresa foi ver lá dentro um lago, cercado de árvores, muitas delas carregadas de frutas. No lago, carpas imensas nadavam na água limpa. O guia que acompanhava a visita informou então que o recorde de peso tinha sido o de uma carpa pescada com 18 quilos.
Mas a maior surpresa para os olhos veio depois. Ao longo de toda Rua Plácido de Castro foi erguida uma verdadeira muralha de contenção, toda de pedra basalto, com uma qualidade técnica elogiada por arquitetos e engenheiros do grupo. Um deles chegou a afirmar: “o principal patrimônio da Maesa é esse muro, ele precisa ser tornado bem visível para quem entrar aqui”.
De minha parte concordo inteiramente com a proposta. E acrescento à sua importância concreta e material, também uma importância simbólica e imaterial: primeiro, porque esse muro resgata todo um saber fazer dos “muratori”, isto é, dos pedreiros que ergueram esta e outras cidades; segundo, porque são os “muratori” os que lançam o fundamento de todas as edificações. E nada é construído sem uma base sólida e confiável.
Resgatar o muro da Maesa é recuperar, no plano real e no simbólico, a importância fundamental dos que construíram seus fundamentos, se me é permitida uma ênfase com jeito de tautologia.
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segunda-feira, 13 de abril de 2015

PRISIONEIRO DA LIBERDADE

“Prisioneiro da Liberdade” é o título do primeiro romance de Dalcy Angelo Fontanive. Primeiro porque o segundo já está a caminho, com o título de “Velhos tempos, novos ventos”.
Fontanive foi professor e diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caxias do Sul. Transferiu-se ainda jovem para o Rio, onde se especializou em psicologia e psicanálise, fazendo carreira de professor na Universidade Federal Fluminense. No final dessa trajetória, descobriu o fascínio de escrever ficção onde, como nos ensina Milan Kundera, é possível dizer coisas que não poderiam ser ditas de outra maneira.
E são coisas do maior interesse humano as que Fontanive põe diante do leitor de “Prisioneiro da Liberdade”. O título, na aparência paradoxal, se explica no decorrer da trama: todas as amarras que tentam prender o personagem Tarcísio – a autoridade paterna, a moral religiosa e social vigentes – têm menos força que seu apego à liberdade. Isso em tese. As situações pelas quais passa o protagonista não têm nada de tese, são muito mais envolventes. Toda a cultura rural veneta transplantada para esta região, com suas prescrições rigorosas sob o controle inflexível da igreja, é ali desmascarada.
Não tenho receio de afirmar que se trata de um drama inédito no romance brasileiro e até mesmo de língua portuguesa. Em certos aspectos esse romance se aproxima dos de figuras como Bernanos e Graham Greene, só para dar uma ideia do nível de significado dessa obra. E que venham os “Velhos tempos, novos ventos”!
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segunda-feira, 6 de abril de 2015

AUTORES GAÚCHOS NA ITÁLIA

Na Universidade de Perugia está o maior tradutor e divulgador da nossa literatura na Itália. Seu nome é Brunelo Natale de Cusatis, professor titular da cadeira de Língua e Literatura Portuguesa e Brasileira. Traduziu para o italiano a poesia de Fernando Pessoa e, para nosso orgulho, escritores de origem italiana aqui do Sul do Brasil. As obras são publicadas na coleção Letteratura Luso-Afro-Brasiliana da Mordacchi Editora, também de Perúgia, em edição bilíngue, para terem função didática.

De Cusatis começou a ter interesse nos escritores gaúchos quando conheceu o poeta Armindo Trevisan, natural de Santa Maria, de que  traduziu Versi puri e impuri. Depois levou para o italiano uma antologia de Racconti de Sérgio Faraco, nascido em Alegrete e, por último, o livro de poemas com o título de Nel Dolore Sconfinato (Nos Gerais da Dor), da guaporense Maria Carpi.

No meio dessa leva, em 2008, o meu O Caso do Martelo virou Il caso del martello. Lembro que ao ler a tradução italiana deparei com a palavra bigonce. Nada menos que a matriz dos nossos “bigunchos” de colher uva, que usei no capítulo dois da novela e que, como a palavra “quatrilho”, ainda não entrou no dicionário da língua nacional.

A boa notícia que me deu Brunelo De Cusatis quando esteve aqui em novembro do ano passado, dando uma palestra no Doutorado em Letras na UCS sobre o que se esconde por trás do trabalho de um tradutor, é que Il caso del martello saiu em segunda edição. Com os seus bigunchos em paz com le bigonce...
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segunda-feira, 30 de março de 2015

A LÍNGUA ABSOLVIDA

Esse título é o de uma das obras mais bonitas de Elias Canetti, autor do livro intitulado Massa e Poder com que mereceu o Prêmio Nobel, livro que, como já disse, é um dos dez que eu guardaria comigo se fosse obrigado a ter só dez livros.
A Língua Absolvida é outra obra imprescindível. Canetti nasceu na Bulgária e aos oito anos já tinha que lidar com quatro idiomas. É a sina de quem usa uma língua situada nas franjas do poder etnopolítico: a de obrigar-se a pôr de lado a língua que lhe dá identidade.
Nossa cidade e esta região durante meio século tiveram sua própria língua, popularmente chamada de Talián,empurrada para os porões por esse poder etnopolítico. Outro meio século depois teve início o seu resgate, levado adiante por iniciativas localizadas de algumas pequenas organizações. Até que, por iniciativa do IPHAN, seguindo diretriz da Unesco, foi implantado um programa de resgate da diversidade linguística do Brasil.
A primeira língua reconhecida como patrimônio nacional nesse programa, foi o nosso Talián, denominação que se impôs por razões etnográficas e linguísticas. Tornou-se assim uma “língua absolvida”. Não posso deixar de exibir uma ponta de orgulho por ter coordenado na UCS esse projeto, o último de minha vida acadêmica.
Agora, falta o passo seguinte: iniciar um processo dinâmico de recuperação desse patrimônio, a começar por nossas escolas. Um pouco eu já fiz, ao publicar os poemas deCantiRústeghi, com “tradussión” de Cleodes Piazza para o dialeto “de supupá”. E isso lá em 1993!
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terça-feira, 24 de março de 2015

O ANDARILHO

Acaba de ser lançado, pela Editora do Maneco, o livro“Marco Bortolai - o Andarilho”, da autoria de Plínio Mioranza. Reproduzo aqui, sem tirar nem pôr, o que escrevi para apresentar a obra:
‘A história do andarilho Marco Bortolai, narrada neste livro, é fascinante. O personagem que emerge destas memórias, com sua bengala teimosa e suas falas mordazes, traz à tona toda uma velha sabedoria camponesa.
O modo pelo qual Plinio Mioranza reconstitui essa figura põe diante de nossos olhos o quadro da memória reconstituida, o relato histórico, o registro etnográfico e o cenário da época. Mais as falas, ora de drama, ora de comédia. Em resumo, este é um documento para ser guardado como patrimônio de uma cultura’.
Plínio Mioranza vem fazendo um trabalho sério de resgate da(s) história(s) esquecida(s) de Nova Veneza, hoje conhecida como Travessão Alfredo. Nova Veneza perdeu o nome durante a febre nacionalista dos anos 1930, e perdeu também a chance de ser uma importante cidade da serra.Por ela passava a “antiga estrada para Vacaria”, cruzando o rio das Antas no Passo do Simão, o que fez do lugar um importante centro comercial e pré-industrial. Até ser aberta uma estrada mais curta para Vacaria, pelo Passo do Zeferino...

O autor anuncia para breve um livro com episódios terríveis (e também esquecidos) da Revolução de 1923 ocorridos em Nova Veneza. A Nova Veneza da história do Marco Bortolai, que se tornou andarilho, “o velho do saco” que assustava as crianças, porque depositou tudo o que ganhava no Banco Pelotense...
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segunda-feira, 16 de março de 2015

MEMÓRIAS DE CANDIDATO

Ninguém mais lembra, mas fui candidato a deputado federal. Eu ainda lembro porque foi uma experiência impossível de ser esquecida. Aprendi tanto sobre o que ocorre atrás dos panos da política eleitoral que cheguei a começar a escrever um romance com o título de O Candidato. Fiquei na primeira página, já digo por que.
Para fazer a campanha é preciso dinheiro. Para que? Numa festa em São Chico, os possíveis eleitores cobravam do candidato uma rodada de cerveja, que o candidato não pagou. Noutra festa em Vacaria a conta apresentada, e também não paga, era a da carne toda do churrasco. Em Caxias um grupo de migrantes que ia votar em outro município trocava os votos de todos pelo pagamento de ônibus e almoço para os passageiros. Noutra cidadezinha, um cabo eleitoral garantia até 300 votos, com uma “ajuda” de 25 reais por voto. Basta isso de amostra.
A culminância foi a oferta recebida, pelo tesoureiro da campanha, de um “consórcio” de empresas de serviços urbanos: doavam até um milhão de reais com uma condição, a de assinar recibo em dobro do valor recebido. O candidato não aceitou e decidiu terminar ali mesmo sua campanha, que tivera o pequeno auxílio de três empresas.
O candidato não se elegeu, é óbvio, mas viu confirmada a frase do antropólogo Roberto da Matta: “O político no Brasil é corrupto porque o eleitor é corrupto”.

Não continuei o romance planejado também por uma razão óbvia: por mais que usasse a imaginação, não chegaria aos pés das histórias fantásticas que todos estão acompanhando.
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segunda-feira, 9 de março de 2015

QUARTA IDADE

Norberto Bobbio, o grande jurista e filósofo do Piemonte, escreveu aos 85 anos um livro com o título De senectute (isto é, “Sobre a velhice”), que foi publicado em português com o título aguado de Tempo da Memória (1997).
Ele começa dizendo que mesmo a quantidade de anos para alguém ser considerado velho mudou, desde que Cícero escreveu o seu De senectute:
“Aqueles que escreveram obras sobre a velhice, a começar por Cícero, tinham por volta de sessenta anos. Hoje, um sexagenário está velho apenas no sentido burocrático, porque chegou à idade em que geralmente tem direito a uma pensão. O octogenário, salvo exceções, era considerado um velho decrépito, de quem não valia a pena se ocupar. Hoje, ao contrário, a velhice, não burocrática mas fisiológica, começa quando nos aproximamos dos oitenta [...]”.
A mudança é tanta que, diz ele, não se fala mais em terceira, mas em quarta idade. No seu modo peculiar de pensar, Bobbio caracteriza três tipos de velhice: a burocrática, a biológica e a psicológica (que para ele, observa com humor, começou ainda na juventude!). A esses três, penso que poderia ser acrescentado um quarto: a velhice como representação cultural, isto é, de como as pessoas se comportam com relação a ela.

Neste plano podem ser ditas as coisas mais bizarras, como esta que ouvi de um amigo psicanalista. A terceira idade está hoje dividida em três fases, diz ele: dos 60 até os 80 anos o sujeito é idoso; dos 80 aos cem anos ele se torna velho, não escapa disso; mas depois dos cem, passa a ser centenário, atingindo a glória!
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segunda-feira, 2 de março de 2015

FORA DOS TRILHOS

A imagem repetida em todos os meios de comunicação, com filas de caminhões, de carretas, de jamantas, de bitrens estrangulando as rodovias e ameaçando estrangular a economia do país, provoca a seguinte pergunta: onde é que foi parar o transporte em cima de trilhos?
O transporte ferroviário nasceu junto com a industrialização, que na Inglaterra começou mais cedo, que chegou à Itália com atraso, provocando a emigração de milhões de pessoas sem trabalho e que no Brasil chegou com maior atraso ainda, há pouco mais de cem anos. Quando a nossa indústria – de metais, de tecidos, de farinha, de vinho - dava os primeiros passos, a estrada-de-ferro veio para dar suporte. Ou foi por causa do muito amor que o governo republicano estendeu trilhos para as colônias italianas?
Veio o governo de Getúlio e o transporte ferroviário se expandiu, com apoio na siderurgia, preço que Getúlio cobrou dos Estados Unidos para entrar na guerra mundial.  Até que chegou um novo modelo, o de Juscelino, que lançou o desafio de fazer o Brasil crescer cinquenta anos em cinco. Esse modelo foi o do transporte rodoviário. O macadame foi coberto de asfalto, as fábricas de caminhões e automóveis foram importadas, o petróleo virou prioridade nacional. Nessa onda até a indústria de Caxias do Sul migrou do ramo metalúrgico para o rodoviário.
Tudo bem, o país avançou. Mas começam a aparecer os engarrafamentos. Primeiro nas ruas das cidades. E agora também nas rodovias. Tudo fora dos trilhos.

E fora dos trilhos parece que não há salvação.
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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

ONDE FAZER OS DESFILES

Não é proibido pensar em tirar o corso alegórico da Festa da Uva da rua Sinimbu. Há problemas em realizá-lo ali, na frente da Catedral e junto à praça? Sim, há problemas. O mais simples deles é ode interromper o trânsito no centro da cidade. Esse, aliás, é um argumento que nem deveria ser levado em conta, de tão inconsistente. A interrupção do fluxo de carros é por algumas horas, durante oito ou dez noites, a metade delas em sábados e domingos, e a cada dois anos. Um pequeno cálculo aritmético (entendo de matemática, não só de poesia...) dá o seguinte resultado: em dois anos há 17.520 horas; dez dias de corso com dez horas diárias de interrupção do trânsito dá 100 horas, de dois em dois anos!
Apenas essa razão não justificaria tirar o desfile de um lugar com tradição e cenário histórico. Lugar de festa é sempre no melhor lugar da casa. E festa sempre interrompe, e atrapalha?,o dia-a-dia, não só a Festa da Uva. Só que essa é a festa da cidade inteira, e é bom parar a cidade de vez em quando para festar.
Argumentoforte para mudar de lugar seria o de buscar melhores condições: facilidade de acesso, boas acomodações para um grande público, e possibilidades técnicas de infraestrutura que eliminem riscos. Mas para isso é preciso pensar num lugar definitivo, e não ir para outra rua em que os mesmos problemas continuam.

Não é proibido também sonhar com esse lugar melhor. Pode-se começar pondo a imaginação a funcionar e, depois, dar um jeito para fazer do sonho uma realidade.
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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Prezados leitores

Por problemas técnicos o colunista da TV Caxias, José Clemente Pozenato, ficou um tempo sem atualizar seu blog.

Informamos que ele retornará em fevereiro, após seu período de férias.

Agradecemos a compreensão,

TV Caxias – Canal 14 da NET
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