LEITURAS
José
Clemente Pozenato
Estamos em plena 30º Feira do Livro
na cidade. É uma excelente ocasião para fazer novas leituras. Mas é também, não
sei por qual razão, oportunidade para relembrar leituras de outros tempos. Será
por causa dos sebos?
Foi assim que, vendo o livro Ortodoxia, de G.K.Chesterton, ocorreu-me que podia estar na minha
biblioteca, porque tinha sido uma das minhas leituras de jovem. Por sorte,
estava bem à vista: uma edição em espanhol, da Espasa-Calpe Argentina, na
Coleccion Austral, em formato pouco maior que o dos livros de bolso. Não estava
ainda traduzido para o português, como o exemplar que vi na Feira.
Abro-o, em alvoroço, e sinto um nó na
garganta: contra meu costume, o jovem que eu era tinha sublinhado a lápis
dezenas de passagens. Pena não poder compartilhar todas elas com o leitor, mas
aí vão algumas amostras, que traduzo:
“Não conheço nada mais desprezível do
que uma defesa engenhosa daquilo que não admite defesa”.
“A fantasia nunca arrasta à loucura;
o que arrasta à loucura é exatamente a razão. Os poetas não ficam loucos, e sim
os jogadores de xadrez. (...) É um fato fácil de explicar: a poesia flutua
folgadamente num mar infinito; enquanto isso, a razão, tratando de cruzar esse
mar, o torna finito”.
“O homem feliz é o que faz maior
número de coisas inúteis, porque o enfermo não pode gastar em ociosidades suas
pobres forças”.
Tudo isso prova uma verdade: livro
não tem data de vencimento, sempre pode ser consumido de novo. E esta não é uma
frase de Chesterton!