segunda-feira, 29 de setembro de 2014

                                   O NOME DE CAXIAS

                                               José Clemente Pozenato

Caxias do Sul começou de maneira tão discreta que nem sequer tinha nome: era “a colônia nos fundos de Nova Palmira”, ou o Campo dos Bugres (o “Campo”, como escrevia Paolo Rossatto aos parentes na Itália, ainda em 1883). Ganhou oficialmente o nome de Colônia Caxias em 1877. Foi Vila Santa Teresa de Caxias, em 1890, até virar cidade de Caxias em 1910, no mesmo dia em que foi inaugurada a estação do trem. O sobrenome “do Sul” veio bem mais tarde, para diferençar da Caxias maranhense.
            O curioso é que ninguém, até agora, havia identificado quem deu o nome de Caxias para a colônia sem nome, e como isso aconteceu. O autor da ideia estava mais ou menos identificado: teria sido o engenheiro pernambucano José de Cupertino Coelho Cintra.  E era um grande empreendedor, esse padrinho de Caxias: construiu em 1892 o túnel Real Grandeza, entre Botafogo a Copacabana, implantou diversas linhas de bondes no Rio e foi quem introduziu o bonde elétrico, comentado por Machado de Assis numa crônica em que dois burros, que puxavam bonde, filosofam sobre sua aposentadoria.

Antes disso, Coelho Cintra havia sido “Inspetor Geral de terras e colonização” na colônia de imigrantes italianos no Espírito Santo. Agora, como foi ele se envolver com os imigrantes aqui dos fundos de Nova Palmira? Quem descobriu a história inteira foi o pesquisador Luiz Brambatti, que me segredou em primeira mão num corredor de supermercado. Ela está narrada, tintim por tintim, no último livro dele, que está para sair. Por isso não conto o final do filme. 
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domingo, 21 de setembro de 2014

domingo, 14 de setembro de 2014

                                   PRINCÍPIOS

                                               José Clemente Pozenato

            Para quem não me conhece de perto, vão aí dez princípios que me norteiam e que, penso eu, deveriam nortear toda sociedade que se considera civilizada:
- Sou radical apenas num ponto: sou radicalmente contra qualquer tipo de radicalismo. Um princípio sinônimo deste é: tudo deve ser relativizado e analisado dentro de seu contexto de tempo, lugar e cultura.
            - Quem discrimina o discriminador também pratica discriminação. Por exemplo, quando há um conflito racista, a probabilidade de que os dois lados estejam praticando algum grau de racismo é de cem por cento.
            - A virtude fundamental da convivência civilizada – isto é, mais evoluída que a dos primatas – é a tolerância. Ou então: ser humano é ser tolerante.
            - Fazer guerra santa nunca é coisa santa, é sempre guerra em busca de poder. Observação: não só as religiões fazem guerras santas. Há outras formas de sacralizar a própria causa. Há guerras, por exemplo, feitas para “impor” a democracia, ou seja, o próprio poder.
            - Dizer que os políticos são corruptos é apenas metade da verdade. A outra metade é: os políticos não seriam corruptos se o povo não fosse corrupto.
            - Queres conhecer o vilão? Dá-lhe o poder na mão.
            - A pior democracia é sempre melhor que a melhor ditadura.
            - É de menino que se torce o pepino. E torcer sempre faz doer um pouco.
            - Quem tudo quer, tudo perde. Quem quer pouco, consegue tudo o que quer.
            - Quem dá atenção ao que não merece atenção, faz o insignificante ficar importante.

Pensando bem, não esgotei a lista.
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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

INDEPENDÊNCIA

                                                               INDEPENDÊNCIA
José Clemente Pozenato

            Quando aceitei o convite para escrever neste portal da TV Caxias, a primeira coisa que me ocorreu é que, de novo, ia ter de cruzar uma porta desconhecida. A primeira foi a lousa de escrever, na escola, onde era fácil apagar os erros. A seguir veio a promoção para o papel e o lápis, com a borracha como recurso para os erros. Depois, o lápis foi substituído pela caneta e o tinteiro, mata-borrão ao lado: a única correção possível passava a ser então a rasura, o que era feio. O jeito era pensar bem antes de pôr a ideia no papel. A caneta e o tinteiro deram lugar para a caneta-tinteiro, tinta e pena num instrumento só, que se podia levar no bolso. Veio então a segunda grande conquista depois do papel: a máquina de escrever, onde as letras já saiam parecidas com as dos livros.
Mas não terminava aí minha trajetória de aprendiz da escrita. Veio o computador, que não dá a segurança física do papel, mas em compensação elimina de vez a necessidade da borracha, da rasura e do líquido corretor. Fiquei muito tempo diante dessa porta, sem entrar. Então descobri que o computador era só um intermediário para o papel, venci a resistência e passei a usá-lo.
            Agora vou experimentar o que é escrever e ser lido sem o papel de permeio. Está proclamada, portanto, minha independência do papel. Como em qualquer tipo de independência, não é de uma hora para outra que se rompem as amarras. Toda independência precisa ser reaprendida, a cada dia, a cada geração.

            Agora que entrei, o leitor poderá me encontrar aqui todas as segundas-feiras. Até a próxima.
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